Inflação. Por que as moedas perdem valor ao longo dos anos?

A inflação é um termo econômico muito utilizado nos noticiários, e nas conversas em família aos domingos. Ela já assustou muita gente num passado não tão distante do nosso país, e vem assustando alguns países muito próximos no momento atual, como a Argentina e a Venezuela. Mas afinal, o que estes países tem em comum, e por que a inflação é um vilão econômico que pode destruir completamente um país?

Vamos bater um papo sobre inflação?

A inflação nos é ensinada como a alta dos preços. Temos alta do preço do arroz, do feijão, dos legumes e da carne. Temos alta na farinha, alta nos pães. Todos os preços variam, e este foi inclusive um grande monstro daqueles que viveram aqui no Brasil entre os anos 1980 e 1990. O cenário era que, a cesta básica que se comprava no começo do mês com o seu salário, não se comprava mais ao final DO MESMO MÊS. Na verdade, em alguns momentos, nem mesmo no mesmo dia.

Nesta imagem, podemos ver o histórico de inflação destes anos tão sombrios da história econômica de nosso país:

Histórico da Inflação anual no Brasil, de 1981 a 2020.
Fonte: https://www.inflation.eu/pt/taxas-de-inflacao/brasil/inflacao-historica/ipc-inflacao-brasil.aspx, 07/05/2021


Esse cenário moldou nosso modo de pensar a inflação e afetou o modo como vemos e vivemos o dinheiro e o valor das coisas.

Inflação em um contexto histórico do dinheiro.

Para entendermos bem a inflação e o dinheiro, precisamos voltar no tempo, onde as moedas não eram papel, mas sim, moedas de ouro. O ouro tinha um papel de ‘valorar’ (dar valor) às coisas. Se uma moeda de ouro equivale a 10 bananas, 10 bananas equivalem a uma moeda de ouro. A moeda tinha este papel de simplificar as trocas, já que nem todo mundo que queria comer bananas, teria um litro de leite para trocar com o vendedor de bananas, por exemplo, mas poderia ter moedas de ouro, que poderiam ser trocadas até conseguir-se o que queria.
Porém, esta ‘valoração’ se alterava ao passar do tempo. Às vezes, você não conseguiria comprar as suas 10 bananas com a sua moeda de ouro, mas apenas 6. Depois, você poderia comprar 12 bananas. Claro que isso aqui é uma fábula, mas afinal, por que os preços variam tanto?

Alterações de preços isolados não podem ser entendidos como inflação, por que a inflação é, na verdade, aumento generalizado dos preços.
No exemplo das bananas, o preço das bananas podia ser alterado por muitos motivos. O produtor de bananas poderia ter uma má colheita, mas ainda sim ter seus custos fixados, portanto, cada banana precisaria ser vendida a um preço maior para que ele pudesse pagar suas contas.
O contrário é verdadeiro. Ele poderia ter uma produção incrível de bananas, mas os outros vendedores de bananas também tiveram, então havia sobra de bananas, e ninguém mais aguentava comer banana no café da manhã, almoço e jantar! Então, os vendedores simplesmente abaixavam os preços para poderem vender as bananas e conseguir, novamente, pagar suas contas.
Esse conceito não é novo pra você, ele se chama oferta e demanda. Junto com a curva da utilidade, eles vão definir os preços que as pessoas estão dispostas a pagar pelas coisas o longo do tempo, mas as oscilações de preços não são necessariamente inflação.
Ta Samuel! Você contou a história toda, mas não explicou ainda o que é inflação!

Aumento Generalizado dos preços. Será?

Inflações, meus caros, é o aumento generalizado dos preços. Não é o preço da banana que subiu, mas o preço de todas as coisas. Os preços gerais de uma economia podem subir, e a isso chamamos de inflação.

Você já olhou a carteira de trabalho de alguém lá no comecinho do plano real, em 1994/95? Os salários mínimos eram, em valores absolutos, totalmente diferentes. Vou colocar outra imagem aqui com o histórico do salário mínimo desde o plano real:

Histórico dos valores do Salário Mínimo desde o lançamento do Plano real, em 1994.
Fonte: https://www.contabeis.com.br/tabelas/salario-minimo/, 07/05/2021

Os salários sobem simplesmente pela passagem do tempo? Será que isso é simplesmente o governo falando pra toda a nação que agora o trabalho pessoas valem mais? Eu não acho que seja o caso.

Inflação como resultado da operação governamental.

Se você leu com atenção, notou que estávamos falando de oferta e demanda, e que eu disse que ela define os preços por aí, mas ao mesmo tempo eu disse que as oscilações não são o que definem a inflação, mas sim, o aumento de preços generalizado… Está faltando alguma coisa, não? Afinal, por que os preços gerais subiriam? Está tudo sendo demandado em maior quantidade? A população geral está ficando mais rica e consumindo mais?

Economicamente, a inflação pode ser explicada pela seguinte engenharia reversa:
1. O aumento generalizado dos preços significa que há um aumento da demanda generalizada, e isso faz os preços subirem.
2. O aumento generalizado da demanda é ocasionado pela perda do valor da moeda ao longo do tempo.

Na verdade, o correto é dizer que há mais dinheiro na economia.

Sobre essa ideia, podemos discutir o seguinte: Os preços no curto prazo são definidos pela oferta e demanda, mas os preços ao longo do tempo tendem a aumentar por que a quantidade de dinheiro disponível aumenta. E isso e terrível! Com certeza os governos estão trabalhando para que a inflação não exista, certo? Afinal, seria muito melhor que ele se valorizasse! Infelizmente, a resposta não é assim tão simples. São os governos quem criam os cenários inflacionários.

Na introdução deste artigo, falei um pouco sobre as inflações nos anos 1980-90. Na verdade, aquilo eram hiperinflações. Um conjunto de medidas ruins foi tomada pelos governos anteriores, e culminaram nesse ambiente econômico totalmente desequilibrado.
Dentre essas decisões ruins, é muito importante lembrar dos anos dourados do nosso regime militar, pois foram marcados por grandes desenvolvimentos econômicos, mas que foram infundados sobre real economia. Digo isso, pois o desenvolvimento econômico deste período foi marcado pela imensa impressão de dinheiro e pelo endividamento exacerbado do governo. Tínhamos um crescimento visível que não era baseado em crescimento real da economia, mas sim baseado em endividamento e criação de dinheiro.

É simples, a conta não fecha. Existem as mesmas quantidades de bananas no mundo, mas as moedas de ouro agora são feitas de areia. Temos abundância da moeda, e a mesma quantidade de bens. Vualá! Temos inflação.

“Minha época que era boa! Governo fez o país crescer, construiu estrada, fez ponte…”.
É bem simples: Endividamento cria artificialmente um poder aquisitivo. Eu não tenho poder de compra para comprar uma casa à vista, mas eu posso financiá-la junto a um banco, e ter essa casa agora. Mas se eu não pagar esta conta, alguém vai ter que pagar, ou eu fico sem teto!

Metas de inflação.

Se você acompanha notícias econômicas, ou se atentou aos noticiários da TV, a inflação é um assunto muito presente, mas, mais do que isso, os governos (não exatamente os governos, mas você já vai entender) tem metas de inflação a bater! Se a inflação corrói o valor do dinheiro, destruindo seu poder de compra ao longo dos anos, por que os governos iriam querer a inflação ao ponto de definirem metas pra ela?

Antes de seguir, eu prometi que você entenderia que não é exatamente o governo que tem essas metas. As metas de inflação são definidas pelo CMN – Conselho Monetário Nacional. Este conselho reúne-se periodicamente para deliberar sobre as metas de inflação para os próximos 3 anos. O CMN é o órgão máximo do sistema financeiro nacional, e é composto de 3 integrantes, e são eles o Ministro da Economia, o Presidente do Banco Central e o Secretário Especial da Fazenda do Ministério da Economia. Ele tem, como uma de suas responsabilidades, formular a política da moeda, objetivando a estabilidade da moeda e o desenvolvimento econômico e social do País. Mais sobre o CMN aqui.

Uma vez definidas as metas de inflação, a função de atender às metas é passada para o Banco Central do Brasil, que é o órgão que regula as instituições financeiras, mas além disso, tem como uma de suas responsabilidades executar as políticas monetárias (tema a ser discutido aqui no blog em breve) e, por meio de operações diversas, como as mudanças nas taxas básicas de juros, atender às metas de inflação definidas pelo CMN.

Resumindo:

  1. CMN define as metas de inflação.
  2. BACEN atua na economia para controlar a inflação e deixá-la dentro da meta estipulada pelo CMN.

Pra que inflar a moeda?

Voltando à discussão: por que os governos tem metas de inflação?

O governo é uma instituição extremamente complexa, que assim como qualquer outra, precisa de dinheiro para funcionar. As 3 formas principais de arrecadação destes recursos pelos governos são:

  1. Aumento de impostos (impopular, e até mesmo ineficiente)
  2. Endividamento (emissão de títulos de dívida | Falarei sobre nas próximas postagens do blog)
  3. Caso não consiga mais emitir dívida, por que os juros simplesmente ficam muito altos, por que não imprimir mais dinheiro? Afinal, é só papel!

A inflação é um efeito da maior oferta monetária na economia.

A percepção errônea que temos da inflação nos faz pensar nela como um efeito dos empresários aumentando os preços dos seus produtos, e colocamos estes como vilões quando são, junto aos consumidores, vítimas de um processo inflacionário causado pelos governos mundo afora. Mas à partir de agora, você nunca mais será enganado sobre isso.

Índices de Inflação.

No mercado, existem alguns índices que são usados para medir este efeito de expansão monetária (aumento da quantidade de dinheiro) na economia.

Mas antes de te trazer alguns destes indicadores, quero considerar algo. Para nossa vida cotidiana, os indicadores são apenas medidas estatísticas. Eles podem estar um pouco separados de nossa realidade como consumidores. Quem faz as compras na sua casa? Se for você, provavelmente você sabe quando está pagando mais caro no arroz do que no mês passado. Mais do que isso, você sabe quando os preços gerais estão mais altos que antes. O efeito inflacionário para o consumidor geral impacta no seu poder de compra exatamente nestes pontos. A sua compra mensal no mercado, quando você se dá conta, está custando mais. Com o mesmo salário, você não consegue fazer a mesma compra. Ou você compra menos (reduz seu padrão de consumo) ou você precisa tirar o dinheiro de uma outra conta, como o combustível do seu carro, por exemplo, ou a educação dos seus filhos (e a sua própria!).

Os índices de inflação são consultas realizadas por certos órgãos aos preços dos mais diversos produtos, com o intuito de medir este aumento. Os índices mais comuns são o IPCA e o IGP-M.

O IPCA é o mais difundido e é, provavelmente, o índice que você mais ouve falar nos noticiários. IPCA Significa Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Isso por si só diz exatamente o que este índice mede. O IPCA tem uma cesta muito vasta dos mais diversos produtos, e abrange famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos. Então, sabemos que este indicador e extremamente abrangente, e não necessariamente reflete a minha ou a sua realidade.
Apesar disso, o IPCA é aceito como o índice oficial do Governo Brasileiro como medida da inflação, e é também o indicador usado nas metas de inflação que definimos acima, e também como indexador de muitos produtos de investimentos, principalmente os títulos de dívida (chamados renda fixa).
Já o IGP-M é um índice composto de outros índices. Dentro de sua medida, temos 60% de IPA, 30% de IPC e 10% INCC, que são, respectivamente, Índice de Preços ao Atacado, Índice de Preços ao consumidor, e Índice Nacional de Custo da Construção. O IGP-M é conhecido por ser o indicador mais utilizado nos reajustes de contratos de aluguéis. Porém, o mais interessante deste indicador, é o fato de ele considerar em maior parte os preços ao atacado, que podem ser entendidos como os preços às indústrias em geral. É por isso que flutuações no câmbio tem uma alta influência neste índice. Se a cotação do real com outras moedas se altera muito, os preços de importações e exportações acabam refletindo neste indicador.

Apesar destes dois índices não serem exatamente a inflação que será sentida por cada família em seu poder de compra particular, eles são realmente importantes para que possamos entender a que passo anda nossa economia, e nos preparar, de certa forma, para estas mudanças de preços.

O pior efeito da inflação.

A inflação, infelizmente, sempre ataca principalmente aqueles que são mais pobres. Eles não tem poder de se proteger contra os efeitos da inflação, e veem sua geladeira ou dispensa cada vez mais vazia, pois o aumento dos preços não consegue ser superado por aumentos de renda ou qualquer poupança. Sobre isso, é muito importante que OS REAIS causadores destes efeitos inflacionários sejam cobrados. Inflação é causa de governos extremamente inflados de custos, pouco eficientes, e reduções de gastos governamentais são uma das maneiras mais eficientes de lutar contra a inflação.

Não quero dizer que programas sociais devem ser prejudicados. Isso vai na contramão do meu argumento inicial de proteger os pobres. Os governos devem sempre buscar produtividade do dinheiro ao máximo, e isso quer dizer produzir mais, ou, mais próximo à realidade, produzir mais com os mesmos recursos!

Governos não tem renda. Eles gastam dinheiro dos outros para os outros [referência a Milton Friedman: 4 maneiras de gastar dinheiro.]. E sabemos muito bem que não existe maneira MAIS EFICIENTE DE GASTAR DINHEIRO DE FORMA INEFICIENTE que essa.

A inflação e o poupador. O impacto da inflação nas nossas poupanças e investimentos, e como proteger-se dela.

Se você ainda não é um poupador, e ainda não tem investimentos, sugiro que busque mais conhecimento no assunto! Poupar e investir são ferramentas simplesmente incrível de proteção do poder de compra e, mais do que isso, de construção de uma realidade financeira pessoal e familiar mais equilibrada. Com certeza falaremos mais sobre isso aqui no blog em breve.

O objetivo inicial de todos que buscam uma vida financeira mais equilibrada, é sempre a poupança. Mas a poupança por si só é frágil, e investir é preciso.

Investir é usar o dinheiro poupado de uma maneira que, protegendo o seu principal, ele possa se multiplicar. É fazer seu dinheiro crescer, se multiplicar. E para isso, existem diversas ferramentas disponíveis no mercado. Desde os títulos de dívidas emitidos pelos governos, discutidos aqui, até títulos de emissão de empresas privadas, instituições financeiras, produtos de renda variável, fundos de investimentos… valores mobiliários tantos que eu posso escrever um artigo completo sobre todos eles (e eu vou, pode apostar!).

A questão do investimento versus inflação, é que já que nosso dinheiro perde valor ao longo do tempo, precisamos nos certificar de que as nossas poupanças não se desvalorizem. Existem investimentos focados nisso, mas eu não quero falar disso neste momento. Eu quero evoluir esse papo ao decorrer do tempo, escrevendo sobre cada produto. Mas eu quero te trazer algumas ferramentas pra você medir se seus investimentos estão sendo protegidos contra a inflação.

Para produtos de investimentos, temos como base de comparação o IPCA. Neste link são disponibilizados mensalmente (assim que forem divulgados pelo IBGE) os valores medidos do IPCA mensalmente, além do histórico do IPCA completos desde 1981.

Para sabermos quanto do seu dinheiro foi corroído pelo efeito inflacionário, precisamos apurar qual foi a rentabilidade real de seu investimento, descontando a inflação daquele período. Se em um dado mês você conseguiu rendimentos de 1%, e a inflação foi de 0,5% no mesmo mês, quer dizer que o seu rendimento foi diminuído pela metade, para 0,5%, certo? Quase isso… hehe

Matematicamente, simplesmente subtrair não é a maneira ideal. Você deve dividir a taxa nominal (a taxa de retorno do seu investimento) pela taxa da inflação do período, aplicando para as duas, o fator da taxa. Segue aqui que é fácil:

taxa real = 1 + taxa nominal (dividido) 1 + taxa da inflação

Para o nosso exemplo, seria o mesmo que:
taxa real = 1 + 1% (dividido) 1 + 0,5%
taxa real = 1 + 0,01 (dividido) 1 + 0,005
taxa real = 1,01 (dividido) 1,005 = 0,4975%

Concluímos então que, para nosso exemplo, temos que nossa rentabilidade real ao final do período foi de 0,4975%, ao invés de 1%.

ATENÇÃO: ISSO NÃO QUER DIZER QUE VOCÊ VAI DEIXAR DE RECEBER O RESTANTE DA RENTABILIDADE!

Não é pra isso que usamos esta conta! Ela serve pra você saber se sua rentabilidade está superando a inflação. Em outras palavras, quer dizer que você não está perdendo valor ao longo do tempo. Nos investimentos, buscamos manter a rentabilidade do seu dinheiro maior que a inflação ao longo dos anos, e sempre buscar alguma rentabilidade acima disso, para que se possa, além de não perder, também ganhar algum poder de consumo.

Um outro comentário sobre isso, é que nem sempre os investimentos conseguem bater a inflação. Existem muitos tipos de investimentos, cada um com sua particularidade. Conforme avançarmos nos produtos, isso ficará mais claro. O risco de cada produto, bem como sua liquidez, vão definir a rentabilidade, que nem sempre vai cobrir a inflação, mas você vai ver que, para certos cenários, tá tudo bem.

Conclusão

A inflação existe, e está comendo o nosso poder de compra. Seja do nosso salário, ou das nossas aplicações e investimentos. Entendemos realmente os mecanismos que geram a inflação, e discutimos como medi-la, e até como evitá-la. Leve isto a frente, compartilhe conhecimento, e fique atento para mais conteúdos aqui do blog para te enriquecer, com conhecimento, e até com algum dinheiro.

Obrigado por ler até aqui!