Construindo uma vida financeira mais equilibrada

Algumas pessoas me procuram buscando alternativas de investimentos, “aquela” empresa que vai se valorizar no ano que vem etc. Esse artigo é o primeiro de uma série onde vamos construir juntos uma mentalidade financeira mais sensata. Investir de forma inteligente é um ato que envolve muito mais que escolha de produtos, e tudo começa na sua vida financeira pessoal. Uma vida financeira equilibrada vai permitir que você acesse produtos melhores e com um risco adequado.

A realidade dói, mas liberta

A grande maioria das pessoas tem o sonho de ser rico. Gostaríamos de ter determinados padrões de vida que nos encantam, sejam carros luxuosos, casas enormes e a possibilidade de passar uma semana em um outro país pelo simples prazer de poder fazer isso sem se preocupar. O fato é que, se você perguntar para cada pessoa diferente, ela te dará uma resposta diferente para a pergunta: “O que é ser rico pra você?” e “O que você faria da sua vida, se dinheiro não fosse problema?”.

Mas apesar de perguntas como esta última serem muitos frequentes nos encontros familiares e de amigos e da positividade que vive em cada um de nós, no fundo reconhecemos (as próprias estatísticas nos mostram) que provavelmente não chegaremos da lista das 100 pessoas mais ricas da Forbes. Neste ponto um tanto melancólico, tendemos a simplesmente ignorar este fato, como se negar a própria verdade nos desse muito mais coragem pra lidar com o dia a dia. Mas é um fato que você não precisa ser rico para ter equilíbrio financeiro, poupar, investir, e realizar sonhos pessoais. Isso é libertador para aqueles que compreendem.

O primeiro passo

Equilíbrio financeiro é um estado onde as finanças estão de acordo com a realidade individual de tal forma que te permite aproveitar a vida, ao mesmo ponto que cuida de aspectos não tão cotidianos, como a sua própria segurança financeira e de saúde (lembre-se sempre que você vai precisar pagar pela maior parte das coisas em sua vida). Equilibrar a vida financeira é trazer à tona os aspectos gerais da vida onde o dinheiro exerce um papel, encontrar os desequilíbrios, e reequilibrar tudo. Isso é uma tarefa tanto prática e manual quanto mental, já que precisaremos rever as maneiras que pensamos determinados assuntos. Se você gasta todo seu dinheiro em lazer, pode estar tendo uma vida social muito agitada e realizada agora, mas pode ter problemas no futuro caso não tenha pensado na sua aposentadoria. De mesma forma, se você se preocupa demasiadamente com sua vida futura, e não realizada alguns prazeres pessoais no presente, você corre o risco de deixar passar alguns bons momentos da sua juventude.

Eu sou jovem, e minha vida financeira está só começando. Tive a sorte de ter alguns privilégios e de começar a trabalhar bem cedo, mas de nada adianta isso se eu não gastar com equilíbrio e, ao passo que aproveito a juventude, construir meu futuro.

Neste primeiro momento, meu convite é pra que você revise seu padrão de vida atual.

  • Quanto você ganha por mês?
  • Quanto você gasta por mês?
  • Você tem sonhos que dependem de dinheiro?
  • Você tem algum dinheiro poupado / investido? Quanto?
  • Você pensa sobre sua aposentadoria?
  • Você sente que aproveita o seu momento presente com seus hobbies e prazeres pessoais?

Se você, assim como eu, é bastante jovem, ativo profissionalmente e tem uma saúde em dia, estas perguntas já serão suficientes pra te gerar certo desconforto e encontrar seu desequilíbrio. Se você não se encaixa neste perfil, estas perguntas servem pra você também, mas você poderia acrescentar algumas mais:

  • Você se preocupa com seguros de vida, saúde, previdência privada etc?
  • Você educa seus filhos sobre finanças? Já faz alguma poupança pra eles?
  • Se você não estiver trabalhando, está dedicando seu tempo para construir uma carreira, buscando conhecimento em áreas que gosta, ou estudando?

Perguntas deste tipo geram muito desconforto. Essas perguntas não são nem de longe um planejamento financeiro, mas se elas te gerarem desconforto suficiente pra você buscar saber mais e ler este texto até o fim, eu já estarei muito satisfeito.

Reequilibrando as finanças

Se você fez o pequeno desafio e respondeu às perguntas, você pode ter encontrado um ou dois desequilíbrios (não vou mentir, sempre achamos muito mais que isso). Pode ser que você tenha notado que não tem um plano para se aposentar, ou que não esteja aproveitando seus hobbies, e até que nunca conversou com seus filhos sobre finanças por que não aprendeu nada sobre isso antes. Seja qual for a sua situação, ao decorrer deste artigo você vai aprender um pouco mais e se sentir mais confiante pra tomar certas decisões.

Felizmente, para lidar com suas finanças você não precisa ser um gênio da matemática. Se você souber somar, subtrair, dividir e multiplicar, já está pronto! Então vamos começar a subtrair da sua vida financeira os hábitos ruins e somar conhecimento, multiplicando seu patrimônio e dividindo felicidade com quem você ama!

Já que você provavelmente sabe fazer contas de soma e subtração, vou começar destacando aqui pra você o segredo ultra mega blaster para o equilíbrio financeiro:

O que você ganha – O que você gasta = O que você poupa
O que você poupa + os investimentos que você faz = seu patrimônio

Eu poderia terminar o texto aqui. É sério. Se você seguir isso, você vai ter uma realidade financeira bem mais tranquila. Mas nós dois sabemos que não é assim tão simples executar um plano desses. Nossos impulsos juntos com a falta de conhecimento são a causa pela qual tendemos a viver a corrida dos ratos.

Eu não quero poupar

Vamos ser francos. Poupar pode ser uma chatice. Muito mais legal que poupar, é poder gastar todo o seu dinheiro com aquilo que você gosta. Mas meu papel aqui é te mostrar que, apesar de parecer chato, além de poder se tornar divertido, poupar vai te trazer tanta tranquilidade ao longo da vida que você vai poder aproveitar a vida muito mais do que você acha. Largar uma situação boa agora, para atingir uma ótima depois.

Mas não somos racionais a esse ponto. Somos essencialmente influenciados por nossos impulsos, e na maioria das vezes são subconscientes. O simples fato de pensar em deixar de fazer algo agora para fazer mais tarde deixa nossa mente ansiosa e desconfortável, e essa é a base de comportamentos compulsivos. Entender a natureza da nossa mente é extremamente importante para que possamos seguir adiante com este planejamento, já que as finanças exigem tomadas de decisões desconfortáveis no curto prazo na grande maioria das vezes.

Seu primeiro objetivo de poupança

Não adianta ter um plano de aposentadoria e investimentos diversos se você não cuida da sua segurança de curto prazo. Uma das maiores causas de desconforto na nossa vida financeira é quando nos vemos em situações desesperadoras, como as demissões. Você tem contas no cartão, parcelas do carro ou da casa, e se vê repentinamente demitido. Sua fonte de recursos se esgotou, e você não sabe o que vai fazer para pagar as suas contas. Situações menores, mas com igual impacto, poderiam ser uma batida no seu carro ou um problema mecânico, uma visita emergencial ao médico ou coisas do tipo.

Todas estas situações imprevisíveis nos colocam contra a parede, mas mais que isso, expõe o quanto nossos planos financeiros são furados e ineficientes. Uma pessoa equilibrada sabe que momentos como estes acontecem com muito mais frequência que imaginamos. Para resolver este tipo de problema, construímos a reserva de segurança. Esta reserva é o seu primeiro objetivo de poupança. E note que eu disse poupar, e não necessariamente investir.

Imagine um cidadão qualquer que ganha um salário de R$ 1.500,00, e que tem todo este salário comprometido com contas pré-concebidas. Podem ser parcelas do carro, contas do cartão de crédito etc. Sempre que ele recebe o salário, o valor vai diretamente para o pagamento das contas, e ele nem sequer “sente o cheiro” do dinheiro. Agora imagine que num determinado mês ele teve uma inflamação num dente do siso. Ele não vai postergar uma consulta, por que quem teve dor de dente sabe que não da pra esperar. Mas ele não tem dinheiro para pagar a consulta e extração desse dente, então ele terá que parcelar mais no cartão. Mas você lembra que todo o salário dele já está comprometido? Como ele vai pagar estas contas?

Esse exemplo é extremamente cotidiano, e você pode ter se familiarizado com um ou dois aspectos (talvez todos, na verdade). Mas o fato é que ele revela um dos maiores erros financeiros das pessoas: gastar como se não houvesse amanhã. Esse desequilíbrio é gigantesco, e a pessoa vive numa angústia dia e noite por que qualquer evento aleatório pode derrubar o castelo de areia dela.

A reserva de emergência é um valor que você precisa formar para eventuais problemas que fogem do seu controle e da sua renda. Se no caso do nosso amigo com dor nos dentes ele tivesse um valor poupado, ele poderia simplesmente pagar a consulta e seguir sua vida (tomara que ele também preste atenção nos gastos excessivos). Este valor da sua reserva financeira, portanto, precisa ser de fácil acesso, pois você pode precisar dele a qualquer momento. Este cidadão pode até ter um carro, uma casa, mas isso não quer dizer nada no aspecto segurança de curto prazo. Afinal, ele vai vender o carro pra pagar uma consulta dentária? Isso não faz o menor sentido.

Além de problemas de curtíssimo prazo, a sua reserva precisa te proteger de problemas maiores, como uma eventual demissão. Geralmente os consultores financeiros vão te orientar que o valor esteja entre 3 e 12 meses do seu gasto mensal médio. Esse valor varia bastante individualmente, já que cada cidadão tem uma condição diferente de segurança financeira. Um trabalhador autônomo que tem renda totalmente variável provavelmente vai precisar de uma reserva muito maior que um servidor público, por exemplo.

Se você não tem nenhuma reserva financeira como essa, é de total urgência que você a construa. Pra isso, vale você fazer de tudo. Arrumar um trabalho extra, e até vender itens que não usa mais, ou trocar por itens mais simples. Você pode, inclusive, vender o seu carro e trocar por um carro mais simples.

Finanças organizadas exigem que você tenha coragem de assumir um padrão de vida menor do que o que você está acostumado. Só assim vai sobrar dinheiro pra poupar. E quem não consegue poupar, não consegue investir.

Conclusão

Ter uma vida financeira equilibrada vai permitir que você possa tomar decisões melhores ao longo da vida, e garantia que pequeno inconvenientes não atrapalhem a sua caminhada. A formação de uma reserva financeira é o primeiro objetivo de alguém que busca este equilíbrio, mas não é o seu único objetivo. Ainda vamos falar de investimentos, dívidas, aposentadoria, e a cada texto vamos aprofundando nosso conhecimento nas finanças pessoais e nas alternativas de investimentos em si.