Fundamentos dos Investimentos

Vamos dar um salto além das finanças pessoais, entrando agora nos fundamentos dos investimentos. Considerando que você já tomou cuidado com os seus gastos, deixando uma sobra todo mês para compor uma reserva financeira adequada à sua necessidade, e que agora seu patrimônio esteja tomando um nível maior, você provavelmente vai querer investir o seu dinheiro para ter retornos sobre ele.

O que é investir?

Poupar significa deixar de consumir agora, para consumir no futuro. Isso nos garante certa estabilidade em momentos de “vacas magras”, mas não garante que você se tornará mais rico poupando. Já discutimos o impacto inflacionário no valor do dinheiro no meu primeiro artigo aqui do blog, e o primeiro objetivo do investidor é proteger a sua poupança contra a inflação. O segundo objetivo, então, é garantir ganhos que vão além da inflação para, assim, não apenas preservar o consumo futuro, mas aumentar seu poder de consumo. Isso é enriquecimento.

Para Benjamin Graham, autor do clássico “O Investidor Inteligente”, “uma operação de investimento é aquela que, após análise profunda, promete a segurança do principal e um retorno adequado“. Vamos analisar esta frase que, apesar de sintética, traz praticamente todos os aspectos a que precisamos nos atentar durante nossa tomada de decisões como investidores.

Segurança do Principal: O PRINCIPAL é o valor investido. A SEGURANÇA diz respeito à gestão de riscos. Vamos discutir ainda neste artigo sobre os 3 pilares dos investimentos. Se investir é gerenciar os riscos do seu dinheiro investido, decisões que vão na contramão deste fundamento podem ser perigosas.

Retorno Adequado: RETORNO são os frutos que você colherá do seu investimento. Mas o que é um retorno ADEQUADO, afinal? Um dos 3 pilares dos investimentos é a RENTABILIDADE, que é justamente o que mede o retorno, e ela não é separada do RISCO. Como investidores racionais buscaremos sempre o maior retorno possível para um determinado nível de risco.

Após Análise Profunda: Com essa observação, Graham destaca um aspecto muito importante do processo de decisão de investimentos, que é o fato de que os investidores nem sempre são racionais. Portanto, uma análise profunda vai impedir que você tome riscos demasiados em investimentos com retornos medíocres.

Tudo o que não se encaixa nestes princípios, para Graham, é especulação.

O que NÃO é investimento?

Para Graham, tudo que não se encaixa em sua definição de investimento é especulação. Ele é, inclusive, muito taxativo no que se diz respeito ao que é um investidor ou um especulador. É muito comum que, como um todo, todos aqueles que se metem em ambiente de mercado financeiro sejam chamados de investidores, mas se estes estão lá para fazer algo que não é investimento, sou taxativo assim como Graham ao classificá-los como especuladores.

Apesar dos estereótipos associados à especulação (pense sobre O Lobo de Wall Street), ela não é ilegal ou amoral. Todo investidor, no fim das contas, está especulando. Especulação é tomar riscos, e enquanto uns tomam riscos em determinadas direções, outros tomam em outras. Se você compra a ação por que acha que vai subir, alguém vende pra você por que acha que vai cair. Especuladores então vão garantir que haja contraparte nos mercados.

O perigo da especulação, em geral, vem do fato de que as operações especulativas nascem da ideia do indivíduo de que ele pode prever a direção nos preços de determinados ativos, e então tomar posições visando obter um ganho de capital. E essa natureza é tão perigosa para o patrimônio do indivíduo, que merece uma citação de apenas alguns dos riscos envolvidos em operações necessariamente especulativas:

  • A convicção de que se sabe a direção dos preços: esta convicção pode estar construída de tantos vieses irracionais que fico enjoado só de pensar em alocar parte do meu patrimônio num investimento apenas com este tipo de convicção. Para mais informações, procurar sobre Finanças Comportamentais e Heurísticas do Investidor.
  • Assumir riscos demasiados: se a convicção traz a sensação de que você sabe a direção dos preços, é muito fácil ser enganado e assumir riscos irracionais para obter ganhos. Esses riscos podem ser desde a concentração demasiada da carteira em determinados ativos, quanto assumir posições alavancadas.
  • Descontrole emocional de perdas ocorridas: o “investidor” convicto tomou risco demasiado, tomou prejuízos elevados e, buscando concertar seu erro, toma cada vez mais riscos. Exatamente como acontece com jogos de azar, o indivíduo tem sempre a esperança cega de que vai reverter seus prejuízos. Mas as estatísticas mostram que o tempo vai “tirar esse cara do jogo”, seja pela sua própria imprudência, ou pelos altos custos envolvidos em girar o capital desnecessariamente. Veja esta matéria para um exemplo prático e atual.

NUNCA tome uma decisão com seu patrimônio sem entender EXATAMETNE os riscos envolvidos, e prestando atenção a quais vieses você está sujeito.

Os 3 Pilares do Investimento

Os 3 pilares do investimento são RISCO, RENTABILIDADE E LIQUIDEZ.

Liquidez

É muito legal falar de rentabilidade, e eu adoro falar de risco. Mas vou começar pela LIQUIDEZ, já que este é o pilar mais negligenciado por investidores iniciantes. Liquidez diz respeito, na prática, à velocidade com que você transforma um investimento em dinheiro. Se você tem uma nota de R$ 10,00 e quer 2 notas de R$ 5,00, é muito fácil você conseguir, por que dinheiro (moeda) é um ativo muito líquido. Um exemplo de um ativo com pouquíssima liquidez seria um imóvel. É muito mais complexo e demorado transformar uma casa em dinheiro, certo? Você nem ao certo sabe quando vai conseguir vendê-la, se precisar.

Como investidores inteligentes, é extremamente necessário que entendamos as nossas necessidades de capital futura para entender quais investimentos se encaixam e quais são arriscados demais para nós. Se você tem um valor que deseja investir, mas sabe que terá necessidade de usá-lo daqui a 1 ou 2 anos, provavelmente você não vai querer comprar ações, já que a natureza do mercado de ações é de que o valor oscile muito, e um intervalo curto como este pode expor você a mais risco do que desejaria. Logo, podemos dizer que conhecer a sua liquidez como investidor te dá um poder de decisão de risco maior.

Rentabilidade

Ninguém investe dinheiro se uma rentabilidade não for esperada. Você investe dinheiro para ter mais dinheiro no futuro. Porém, cada investimento em particular tem a sua fonte de rendimentos específica, e o investidor atento sabe exatamente o que ele espera com determinado investimento. Ele quer valorizar o patrimônio atual ou quer receber uma renda sobre ele? Que ativos permitem que ele possa atingir este objetivo, mantendo sua liquidez dentro da desejada?

Um investidor pode querer receber uma renda como aposentadoria e optar por comprar imóveis, fundos de investimentos imobiliários, títulos com cupom, ou previdências privadas, por exemplo, enquanto um investidor iniciante, no começo de sua carreira, está construindo um patrimônio para se aposentar em 20 anos ou construir sua empresa em 3 anos. Cada indivíduo tem necessidades diferentes, e o investidor precisa conhecer os seus objetivos.

Porém, quanto maior o prazo disponível para investimento, maior a rentabilidade provável de ser obtida em seus investimentos. Então, junto deste pilar, o pilar liquidez precisa ser pensado para não expor demais os investimentos aos riscos evidentes.

Risco

Deixei o risco como último pilar, e adianto que não poderei abordar ele completamente, pois risco em si é um assunto extremamente amplo. Cada investimento tem uma natureza única e um risco em particular. E mesmo ativos muito semelhantes podem ter níveis de riscos totalmente diferentes. Abordarei os riscos mais comuns dos produtos de investimento em geral.

  1. Risco de Liquidez: está associado ao primeiro pilar, e como discutido antes, representa a velocidade com que um investidor consegue transformar este ativo em dinheiro. Exemplos de ativos extremamente líquidos são a caderneta de poupança, papel-moeda, e ações. Já ativos não líquidos, temos os imóveis e empresas. Alguns ativos exigem que o prazo seja cumprido para que a rentabilidade seja recebida, ou garantir que o risco de mercado não corroa o patrimônio de forma indesejada.
  2. Risco de Mercado: o risco de mercado representa o risco de não necessariamente conseguir resgatar um investimento pelo valor que foi aplicado, podendo este ser maior (gerando lucros) ou menor (gerando prejuízos). Exemplos de ativos com baixo risco de mercado são a caderneta de poupança e títulos 100% pós-fixados. Ativos com muito risco de mercado são ações e títulos pré-fixados.
  3. Risco de Crédito: é mais difícil de ser compreendido pelos investidores no início, mas pode ser explicado como o risco de você não ser pago. Quando investimos em títulos, estamos emprestando dinheiro a alguém, e o risco de crédito nos diz se temos boas ou poucas chances de receber o valor contratado. Exemplos de títulos com baixo risco de crédito: Títulos públicos do governo americano e com altos riscos de crédito, debêntures de empresas muito endividadas.

O investimento perfeito.

O tripé dos investimentos nunca está composto pelos 3 pilares completamente, e é impossível encontrar ativos com alta liquidez, baixo risco e alta rentabilidade. Este é o ideal, e o investidor inteligente vai compor sua carteira buscando sempre este ideal, mas estará ciente do fato de que rendimentos elevados irão exigir dele uma liquidez deficiente, e riscos elevados. Portanto, o investimento perfeito é aquele que atende a sua necessidade de liquidez, te expondo a um risco confortável e dentro da racionalidade, e o retorno tende a ser satisfatório.

É extremamente perigoso afirmar que existe um investimento melhor que outro, e uma estratégia melhor que outra, visto que cada indivíduo tem uma realidade financeira única.

Armadilhas ao investidor.

A ganância, a nossa natureza emocional e irracional, e a nossa incapacidade de sermos sempre objetivos nos coloca onde as armadilhas do mercado financeiro conseguem nos manipular e nos levam a decisões equivocadas. As finanças comportamentais nos trazem princípios que nos fazem refletir e ser mais cuidadosos quanto aos nossos investimentos. Um destes princípios é de que as pessoas são emocionais, e não racionais. Isso vai na contramão do que queremos como investidores. Enquanto investidores racionais buscariam a maior rentabilidade possível para um determinado nível de risco, como seres emocionais podemos ser atraídos para alternativas mais arriscadas com níveis de retornos iguais. Se temos um ativo livre de riscos que nos rende 5% ao ano, por que vamos tomar riscos para obter 5% ao ano? Isso não é inteligente, mas tomamos decisões assim o tempo todo.

O fato de sermos emocionais nos faz tomar decisões baseados em vieses ou heurísticas, que são processos cognitivos empregados na tomada de decisão, que tornam as decisões mais fáceis, ou incompletas. Algumas dessas heurísticas são:

  • Excesso de confiança;
  • Aversão à perdas;
  • Ancoragem;
  • Disponibilidade;
  • Armadilha da Confirmação (bolhas)

Ignorar que você pode tomar decisões equivocadas já é, em si, tomar uma decisão equivocada.

Conclusão

Investir é preciso, mas mais que isso, é preciso entender o que se faz. Aplicar seu dinheiro em investimentos que você não entende, que estão fora da sua realidade e que tomam riscos exagerados, é uma decisão ruim. Não escrevi este artigo para colocar medo em você, mas para te encorajar a conhecer mais sobre os investimentos que se dispõe a fazer, e mais ainda, reconhecer sua natureza irracional e tomar as decidas providências para preservar seu patrimônio e enriquecer com sabedoria.